segunda-feira, 14 de setembro de 2009

testamento 2009

Antes que venha a morte
Para ditar o seu momento
Ouvi sem perder o norte
Memórias em testamento

Ouço que o mundo tem crises
Que tem fome de abastança
Mas nós somos as perdizes
Para o rico encher a pança

Para o rico encher a pança
Se funda a vida na desgraça
Que nas voltas desta dança
Ele ataca-nos como a traça

Somos povo de brio e raça
A enfrentar as ondas do mar
Só não bebemos a boa graça
Que nos dá um bom manjar

Que nos dá um bom manjar
Uma bela vida de milionários
Mas o pião não pára de girar
E só nos dá fundos fadários

Só nos dá choros e lutos
E dois reis de mel coado
A astúcia desses matutos
Que nos têm governado

Que nos têm governado
Com helicópteros fantasmas
Enquanto o mar renegado
Abre ao pescador suas camas

Mas para que o mal não dure
Já temos uma soberba piscina
Para que em tal sítio se cure
A dor na sua água cristalina

Para que a felicidade não tarde
Deu-se ao mar um belo museu
Num material que nunca arde
Pois já tem as bênçãos do céu

Também é obra digna do céu
O desfile de sereias na marginal
Que mostrando um bom pitéu
Mais enfeitam de luz o material

Pra que a festa fique completa
Vou deixar dois bons regalos
Como quem se livra da treta
De quem nos pisa nos calos

À assistente que nos deve ajudar
E que acha que somos bêbados
Sou bem senhor pra lhe enviar
Um pipo d`água dos penedos

À mestra das crianças tão dedicada
E que tem certo sotaque de estalo
Mando uma sebenta emprestada
Pra pôr o nosso falar no peixe galo

Já tens a tua suja língua de fora
Ó alma negra dos mundos
Mas só podes saldar a penhora
Levando com fogo nos fundos

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